Por Profª Juliana Vilma Mattos Ribeiro

“Medo de voar, medo de sentir-se perdida, medo que tudo mude, medo que tudo continue igual, medo de repetir o passado, medo de não avançar, medo de dar um passo, medo dos outros, medo dela mesma, medo do futuro”. (Livro: O casaco de Pupa de Elena Ferrándiz)

Assim como a Pupa, muitas vezes vestimos um casaco carregado de medos, incertezas, dúvidas… nos julgamos incapazes de superar desafios.

Do que temos medo? Por que temos medo?

Estas foram algumas perguntas apresentadas ao grupo do 3º ano do Ensino Fundamental matutino para introduzir o Projeto “Capsula do tempo”. Sensibilizados pela leitura do livro de literatura infantil “O casaco de Pupa” da autora Elena Ferrándiz, as crianças puderam conversar em aula sobre seus medos, compartilhar suas aflições, preocupações e perceber que as causas são as mais variadas: “Robô, público, escuro, aranha, ficar sozinho, da noite, medo de perder-se, medo do desconhecido, medo que ainda não sei” (crianças do 3º ano).

Durante este processo de reflexão coletiva, foi possível perceber que identificar e compartilhar os sentimentos nos torna mais confiantes e em grupo, somos ainda mais fortes!

Com o objetivo de construir uma identidade do grupo e o sentimento de pertencimento, pudemos refletir: E o futuro? É comum conversarmos e pensarmos sobre o que vamos ser quando crescer. Mas quais são nossos planos a curto prazo? Quais são meus objetivos para este ano? Onde quero chegar?

O poeta Pedro Bandeira já nos dizia…

Pedro Bandeira
Por que me perguntam tanto,
o que eu vou ser quando crescer?
O que eles pensam de mim é o que eu queria saber!

Gente grande é engraçada!
O que eles querem dizer?
Pensam que eu não sou nada?
Só vou ser quando crescer?

Que não me venham com essa,
pra não perder o latim.
Eu sou um monte de coisas
e tenho orgulho de mim!

Essa pergunta de adulto
é a mais chata que há!
Por que só quando crescer?
Não vou esperar até lá?

Eu vou ser quem eu já sou
neste momento presente!
Vou continuar sendo eu!
Vou continuar sendo gente!

BANDEIRA, Pedro. Mais respeito, eu sou criança!

Neste trabalho de olhar a criança como protagonista e sujeito da sua própria ação, foram construídos os objetivos e metas para este ano de 2021 com as próprias crianças..

Os itens nas listas realizadas pelas crianças foram das mais variadas: “andar de bicicleta sem rodinhas, ajudar o irmão mais novo a andar de bicicleta sem rodinhas, viajar”…. Mas todos foram unanimes em um ponto em comum: a preocupação com a pandemia. Diversos itens expressam o quanto o vírus afetou e afeta suas vidas: Passar o Natal com a família, vacina para todos, meus avós vacinados, encontrar meus amigos.

É possível perceber o quanto o convívio e socialização são importantes para o desenvolvimento integral das crianças. Por isso que reconhecemos a importância da natureza no aprendizado das crianças em nossa prática pedagógica. Além de que “crianças conectadas com a natureza é uma questão, também, de manutenção do futuro do planeta. A criança que convive com o meio natural e desenvolve afinidade em relação à natureza aprecia e zela pelo mundo à sua volta porque o respeita e o reconhece como seu ambiente de pertencimento”.

Dando continuidade ao Projeto, como representantes da turma do 3º ano matutino, já que a turma se encontra organizada em ensino remoto, realizamos um momento solene de enterrar a cápsula no terreno da escola, contamos com a presença de Laura e Natália.

E lá fomos nós! Seguimos pela trilha morro acima, determinadas em cumprir nossa missão honrosa!

Ao atingirmos o cume, paramos para apreciar a vista da nossa escola. Ambas ficaram impressionadas com tamanha beleza e imensidão.

O mar de verde a nossa frente inspirou as meninas a encontrar o lugar ideal para enterramos a cápsula – entre duas pedras, abaixo da árvore.

Nos revessamos para cavar o buraco com o tamanho necessário para a cápsula, em meio a terra mexida encontramos minhocas de diferentes tamanhos. Corajosas as crianças seguraram as minhocas na palma da mão, observaram, acariciaram e aprenderam sobre suas características.

Tal experiência foi tão instigante que inspirou a Laura a construir um minhocário em casa, a fim de observar por mais tempo os animais que despertaram sua curiosidade.

As meninas voltaram encantadas com tudo que viram e encontram pelo caminho da nossa aventura… flores, borboletas, minhocas, bois e uma vista da escola deslumbrante e de tirar o folego completaram nossa vivência.

Para dar sequencia a este Projeto, no espaço dos saberes, situado na nossa fazendinha, confeccionamos uma placa, gentilmente cortada e preparada pelo marceneiro da nossa escola: o Paulinho, onde tivemos uma aula de marcenaria e de arte repleta de significado!

Levamos a placa especial até o local onde enterramos a cápsula do tempo anteriormente, o professor de educação física – César, nos acompanhou na expedição. Laura estava muito entusiasmada em retornar ao local e preocupada em não reconhecer o lugar exato outrora escolhido.

Sua preocupação deu lugar a alegria quando de longe ela apontou e gritou:

“É ali!! É ali!! Naquela caverna!”

E feliz, demarcou com a placa o precioso espaço que guarda nossa cápsula até o momento de desenterrá-la em dezembro de 2021.